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Emplacando a última onda do agronegócio

21 de junho de 2017
Luciano Magalhães

 

Os modelos de consórcios – entre florestas, animais e culturas agrícolas, nos seus diversificados mosaicos, estão sendo praticados por muitos e tornando-se uma realidade dentro do Agronegócio. É admirável o tempo decorrido entre a definição de um propósito inovador e o intervalo necessário para a absorção dos possíveis novos arranjos e combinações.

 

Iniciados e implantados em grande escala, em Vazante – MG, a partir de 1986, os modelos de consórcios foram desenvolvidos e mantidos por 10 anos até o seu amadurecimento em fundamentados ensaios de pesquisa e desenvolvimento (P&D), para posterior divulgação e disponibilização dos resultados para teses de mestrados, doutorados, produções de vídeos, benchmarketings e outros.

 

Após o despertar das Universidades e concomitantemente de vários outros centros de sabedoria como por exemplo, Embrapa, Epamig, Emater e Campo, fundamentaram-se as iniciativas, que através de multiplicadores, tornaram-se hoje uma realidade.

 

Não sei se existe no momento outra proposta tão consistente, inovadora e mais segura sob os pontos de vistas técnico, econômico, social ambiental e porque não dizer político, do que a integração entre floretas, culturas agrícolas e animais.

 

Acompanhando, através de vários veículos de informações, notícias sobre o andamento dos resultados obtidos em investimentos daqueles que adotam a ideia dos Sistemas Agroflorestais, vemos novas fotos espetaculares e resultados econômicos positivos, variando em função de indicadores que norteiam produção e produtividade.

 

Sem nenhuma pretensão de ser o dono da verdade e entendendo que a diversidade possui seu aspecto positivo, vale a pena registrar:

 

  • Por princípio, os sistemas de consórcios devem considerar seus componentes em suas diversas etapas, contemplando as exigências de cada um destes componentes sem prejuízo aos outros e quando possível, devem promover ainda a oferta de melhorias relativas à interação genótipo-ambiente.

 

  • Entre outras, ainda predomina para muitos a crença de que quanto maior a população de plantas por hectare, maior será a produção de madeira, estabelecendo assim, a inconveniente meia verdade, ao transferir o foco da produtividade para a produção.

 

  • É muito importante quando se planeja uma modalidade de SAFs registrar e fazer prevalecer premissas, destacando que produtividade é dentre outros fatores, função de:
    • volume: que é função quadrática do diâmetro, sendo este inversamente proporcional ao nº de plantas por hectare;
    • custo por hectare: que é função direta do espaçamento (nº de plantas por hectare; nº de metros de sulco por hectare e atividades de manutenção, em sua maioria, em função do nº de linhas por hectare);
    • índice de mecanização;
    • produção em m³/ha;
    • nº de indivíduos a serem colhidos por hectare;
    • qualidade, tipo de madeira e sua destinação, obtendo maior valor por m3.

 

Por outro lado, após mais de 1/4 de século de acúmulo de conhecimento, já se torna possível e conveniente estabelecer parâmetros para a técnica, com o objetivo de resguardá-la de críticas, insucessos e até mesmo de descréditos por aqueles que no campo tem suas expectativas frustradas, acreditando que sua modalidade de plantio se enquadra como um modelo de SAF.

 

Como desvios críticos, tenho tido a oportunidade de registrar em campo:

  • A abertura exagerada entre linhas de plantio e redução excessiva da distância entre mudas dentro da linha.
  • Plantios de linhas duplas, triplas e até mais, perdendo todo o conceito de interação / integração.
  • Número exagerado de plantas por hectare, propondo desbastes às vezes até seletivos, inclusive em plantios clonais.

 

Tudo isto precisa ser discutido, evitando aconselhamentos equivocados, que permitem em função dos maus resultados obtidos, principalmente no que se refere ao retorno sobre os investimentos, severas críticas aos modelos de consórcio, incluindo o mais divulgado atualmente, que é o ILPF (Integração Lavoura Pecuária e Floresta).

 

É claro que não pretendemos inibir ou limitar o avanço da ciência, através da pesquisa, mas sim, ordená-lo; o que sem dúvida passaria primeiro por uma ampla revisão da literatura, confirmação e enquadramento de conceitos, incentivo e liberação de créditos sob a ótica desses princípios, através da interação de equipes multidisciplinares.

 

Quanto custa ao país investimentos de tempo e recursos em projetos mal fundamentados?

 

E quando, com as melhores intenções, orientam o produtor, que só percebe ao final do investimento que o resultado esperado não foi obtido? Mas, aí já é tarde!

 

Como se não bastasse, há ainda o efeito inflacionário impactante na economia do país que investe e espera dos agronegócios grande geração de valor por real aplicado. O efeito multiplicador de resultados negativos, ou seja, não alcançados, viaja na velocidade da luz.

 

No estágio de desenvolvimento em que se encontra a técnica dos consórcios, pode-se gerar para o mercado uma cartilha objetiva, com poucas páginas registrando seus principais fundamentos, ou seja, seus fatores de sucesso, incentivando variações criativas em no máximo 5% da área do projeto como P&D.

 

É hora de levar segurança para os investidores nos agronegócios, permitindo-lhes acesso ao crédito, com confiança por parte dos agentes financeiros.

 

Para muitos, o estado da arte desta técnica, e que a ciência deveria estar focada em atingi-lo, será quando a madeira produzida for obtida a custo zero, ficando os investimentos nas alternativas parceiras, responsáveis por garantir fluxo de caixa positivo, para o projeto como um todo. No bom português isto significa "suar sangue", ou seja, na fase de planejamento, alocar recursos em consórcios alinhados com a capacidade dos sites, vocações regionais e desejos do mercado. Quando isto não for possível, no mínimo, devemos saber aconselhar o produtor a não investir.

 

Fato é que talvez tenham verbalizado por mim, e a estes sou grato, quando afirmam a existência de uma nova onda e a expectativa do Brasil ser o mais habilitado entre os surfadores do planeta dedicados aos agronegócios.

 

Para que não seja considerado este "surfe" modalidade de luxo e garantirmos acesso e oportunidade a todos, bastaria alterar a tão bem-sucedida proposta do PRONAF (Agricultura) para Programa Nacional de fortalecimento da Agrossilvicultura Familiar.

 

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